quinta-feira, 18 de setembro de 2008

LIVRO DAS REPÚBLICAS: ANEXO: AQUARIUS


AQUARIUS
Jorge Ney Esmeraldo

(Se alguém não for citado, me perdoe, a nossa lembrança muitas vezes falha, mas a nossa amizade e estima jamais se extinguirá.)
Casa de lobos e profetas- em jogos de copas do mundo.

Ovelhas desgarradas- brasileiras e gringas

Andarilhas, sem rumo e até expulsas.
Mas aqui, sempre acolhidas.
Casa de CDF’s, pensadores e coçadores- pensantes.
Casa das melhores médias da Escola de Minas: São Xico (a maior média da Escola de Minas até hoje), Zé do Coura, Binha, Clarezão, Luís Alberto, Rafael, Kika, Jabuti, Castor, Celsinho Motoqueiro, Garfinho... Não precisa ficar puto não, que eu vou dizer: Brecha e Paulo Delano. Brecha vai dizer: é..., das melhores você fala, agora da rapa do tacho?!
Casa dos bondes nas madrugadas, dos carteados e ferrações desenfreadas- será que alguém já descobriu onde incide o raio ‘ré” incidente refletido em um espelho côncavo? Ou o C.G. das engrenagens do Bicalhão?!
Casa da criatividade e dos processos aplicativos da teoria Newtoniana- Haja visto a tesoura elétrica do Gabriel no experimento realizado com o Santelmo.
Casa heterogênea, vez por outra homogênea- somente quando chacoalhada, quem não se lembra de meio violão para fora da porta da rua, puxado pela polícia e meio para dentro puxado pelos Aquarianos?!
Casa de prestativos- Tonho que o diga, quando presenteou todo o guarda roupa do Brecha para um pedinte andarilho. Quando o Tonho recebia a mesada, comprava um pacote de cigarros Hollyood e dava um março para cada um de nós. Em compensação depois... Perguntem pra ele!
Casa de excêntricos, concêntricos, retos e curvilíneos.
Casa que aceitou morar irmãos: os Bonstempos, os Aires, os Aluísios, os Brechas, os Mirtins, os Licurgos, os Joins, os Cariocas, os Andrades, os Ferreiras, os Aranhas, e quem mais for Aquariano que vier por aí.
Casa das batucadas e muito japonês no samba. Jeguim, certa vez tocou tanto pistom, que ficou fazendo bico de pistom o baile inteiro. Pastor também, diz que toca. Só sabe o hino do mengo.
Casa do Zeca, do João Tubarão, do Beijim e do Silibim, que partiram, deixando saudades. Que o bom Deus os guarde em Sua infinita misericórdia.
Casa da marcha mais esquisita do mundo: Pintou um coroa francês e ficou uns dez dias hospedado na República. Mas era uma figuraça! O Barto até hoje pensa que “Joubert” é de outro planeta. Imagine só: Joubert- careca, com uns 55 anos, cara de professor alienígena- ia na frente segurando a bandeira da república, em seguida toda a galera da Aquarius, em fila indiana, cantando o hino da França. O desfile começou dentro de casa, saiu pelos fundos, foi pelo “bêra bosta”, saiu na Casa dos Contos, subiu pela Rua Direita- isso lá pelas 5 horas da manhã, e parou num bar, na praça Tiradentes. Aí, haja cerva. No final, ninguém tinha grana, olhou um par cara do outro e saiu todo mundo correndo pra República. O cara que estava atendendo, não agüentou a cena e ficou morrendo de rir. Depois, a conta foi paga.
Casa do Bixo Mago, do Batata, do Licurgo, do Xuvisco, do Xupa Bico, do Pingüim, do Pedrim, do Caio, do Piau, do João Nariz, do Pedro Paraguai, do Rôia, do franco brasileiro Jean, do Beijim II, do Felipão e do Felipe, do Maurim, do Zé Carneiro, do Momô, do Jôse, do Tibají, do Melekão, do Finim, do Antigo, do Deusdete, do Cabecinha, do Silsão, do Chapa, do Gisele e do Loyola.
Casa das galinhas tomadas emprestadas- só enquanto eu como. Aluísio foi o maior especialista- Genim?! Nossa! Só de ouvir um barulinho de carro, já pensava que era a Polícia.
Casa das comadres e também do Barto, adotado pelo Quinquim, Calango, Cabral, Brecha e Lourival.
Casa das toalhas de bares- Perni que o diga. No Gavetão, não sobrava uma. Todas tornaram-se bandeiras da República.
Casa de pintores e poetas- aqui foi pintado o quadro mais demorado do mundo, o feito foi do Horus, passou um ano pintando um quadro, terminava e pintava por cima novamente... E só saia Scliar. Pintava tudo novamente... Scliar de novo... Ficava puto, tomava um litro de conhaque, dava martelada na porta até encher o saco de todo mundo... Pintava tudo por cima e Scliar de novo. Encheu o saco, chamou o Scliar, ele olhou o quadro e falou: é, está bom, mas precisa melhorar. Ficou do jeito que estava.
Casa da melhor festa junina que Ouro Preto já viu: a festa começava às 20 horas e às 18 horas o Prefeito Alberto Caram, todo de paletó e gravata, já andava pra lá e pra cá, lá no “Bêra”. Tinha em torno de 1.200 pessoas presentes.
Casa de busca, gurus e discípulos- certa vez estava eu e o Brecha na porta da república, chegou uma figura, daquelas carimbadas e perguntou- com uma voz radicalmente gutural, rouca como ela só: o Romano Russo taí? Não...
O cara estava sem camisa, só o grade e os caborés cantando dentro, dava pra contar pelo menos 14 costelas. O cara pensou um pouco, coçou o suvaco e disse: meurmão, dá pra descolar uma bosta aí? Vai fundo cumpade!
Casa de sonhos, fantasias e fantasmas- Zé de Freitas sabe o resto desta estória cabeluda!
Casa de políticos- É ou não é Paulo Delano? Papo chegou, parou aí e deu cria- E teatros- Jabuti já foi anjo e Pita é Show Man.
Casa freqüentada por moças bonitas e algumas: no primeiro dia feia, no segundo: é... mais ou menos. No terceiro dia: LINDONA. Algumas pessoas são mais belas por dentro.
Casa de discussões e brigas- a República não se transformou em duas, porque Aquarius é uma única e nova Era.
Mas mesmo assim, não sobrou um vidro das janelas da copa inteiro.
Casa dos Bonstempos, do Teófilo, do Wilson, dos Botiôs, do Evaldo e também do Romano Russo.
Casa do Quinquim, Márcio Cúri, Zé do Coura, Calango, Cabral e Brecha.
Casa do Flavim das receitas médicas- passou um dia inteiro, na porta de casa, com uma mesinha e um maço de folhas de ofício, receitando todo mundo que chegava- o pessoal confundia o INPS, que na época ficava ao lado da Aquarius- Casa do Buia “eu estava até dormindo”.
Casa dos Eugênios- Ferraz e Zureta- quem senta na frente só tira nove e meio, dez- “papo de peruano”.
Casa do Bronco, do Mário Cabo, do Geraldo, do Pezão e do Julião- Oh Julião! Quem quebrou a televisão?
Casa de nego bom de bola- O time dos 30 anos:
Titulares: Cajurí, Matipó (irmão de Binha), Brecha, Pita, Zeca e Tonho.
Reservas: Jatobá, Tatão, Juninho, Piau e Luckshall.
Reservas do infantil: Marcos Arthur, Jabutí, Miolo (joga muito esse menino), Téo (puto da vida, queria estar no titular, mas foi barrado) e Nicolau na esquerda, jogando sem bola – Técnicos: Mané Caiaba e Garfinho.
Casa da partida única do mundo- ping pong na cozinha, de madrugada, com botijão de gás- O Seu Nicolas foi o único entre 3,5 bilhões de chineses a assistir esse estranho jogo.
Casa de plantação de feijão e arroz, em morros, com tiros de espingarda do avô do Gabriel e plantação de macarrão do Padim.
Essa casa é de água, mas principalmente dos ventos- e Haja Vento!
Casa do Mocó, Silvinho, Quaiada e do Jararaca testa de aço- A ema gemeu, no tronco do juremá..., do Bertão e do Zebú- tio do Tixico.
Casa do Pardal, Mônica, Goiano, Kadron, Magoo, Baé e Alberico da garruncha.
Essa casa é do caixetão, mas também foi benta pelo Padre Mendes, a pedido do Boinha.
Casa de trajetórias diversas: os que aqui moraram, servem hoje de exemplo para os atuais moradores. Cada um com sua busca, cada um por seu caminho, cada um em seu processo de construção e reconstrução. Em empresas públicas, privadas ou como autônomo, todos levaram e deixaram um pedacinho de seu ser para nós outros.
Minha homenagem especial “AS COMADRES” que tanto nos ajudaram a superar os momentos difíceis, com suas presenças simples, sinceras e singelas nas horas tristes e alegres.
Minha homenagem também aos atuais moradores e cito o Otávio -- Jaka, pela idéia, dedicação, zelo, força de vontade e desprendimento com que está encarando este projeto, o qual eu denomino de “Resgate da Memória Humana e Solidária da República Aquarius”.
Essa casa é a “AQUARIUS”
Casa de lendas, de sonhos, de criação.
Das lendas aos sonhos e dos sonhos à criação.
Que Deus abençoe sempre este lar.
ESSA “AQUARIUS” QUE FOI, É E SEMPRE SERÁ A NOSSA SEGUNDA MORADA.
Ouro Preto, julho de 1999

Jorge Ney Esmeraldo- Ceará/Padim Ciço/Papi
Aquariano com muito orgulho.

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